O meu irmão Harrison

Aqui há dias por intermédio de “Deus” tropecei num site chamado “O meu amigo Harrison”. Neste site, uma torturada alma, como eu (que egocêntrico estou hoje, como nós) que enfrentamos a hercúlea tarefa de se candidatar a um lugar ao sol na escala filogenética da carreira médica ante o mais absurdo dos trabalhos que os olímpicos senhores nos impõem, explana truques e dicas para descrita antítese do “savoir faire” que nos é exigido como profissionais.

Como sempre na minha vida o tropeção ocorreu meses depois do momento em que teria sido útil eu precisar dele, tornando a perfeita imagem de uma fonte de ambrósia eternamente jorrando com virgens voluptuosas que é para um mísero condenado à PN encontrar o Harrison sistematizado e sumariado com critérios que fariam empalidecer tão célebre defunto sábio da Medicina Interna, numa ode à ironia descrita na perfeição nos versos da Alanis Morrissette “[…]it’s a free ride when you’ve already paid/ it’s the good advice that you just didn’t take […]”. Para que me entendam os leigos é como encontrar uma bíblia na série de livros “… for dummies”… ‘péra lá e como é que eu explico aos laicos??? (bem vocês devem fazer uma ideia, senão toca a ir à Fnac comprar uma bíblia, para depois…got the picture?)
E tudo isto para quê? Porque como na canção supra citada “life has a funny way, of bringing you down when you everything’s OK, and everything blows in your face/and life has a funny way of bringing you up when you think everything’s goin’ wrong” (o leitor já deve ter percebido que ‘tou a ouvir Alanis nesta altura) depois da hecatombe que foi o exame (e aqui, os leitores leigos, têm que entender hecatombe como algo drástico mas que nada tem a haver com a capacidade do médico, como explicarei à frente, e, os cristãos, que Deus não te sussurra as respostas ao ouvido E EU FIZ UM O EXAME NUM SEMINÁRIO E SÓ ELE SABE COMO ATÉ A ELE EU PEDI AJUDA, portanto se ele não estava lá vocês têm que pôr em causa o principio da ubiquidade do Senhor)1 … onde é que eu ia… ah! depois da hecatombe ver o trabalho realizado pelo penado Daniel Pinto, lembrou-me que este exame me implicou tantas esforços, tantas penas que deixei de escrever como forma de expugnar o fel que me corrói as entranhas e portanto, se bem que fazer a merda do exame me soube como o tramadol depois de assegurado o quadro de colecistite aguda mediante as mãos do cirurgião e o manipulo com o cristal de quartzo e o seu efeito “piezoelectrico” de um ecógrafo, escrever está a ser para mim hoje a cara de satisfação dos pacientes já sob efeito de propofol&amigos a milímetros de distância da enorme “prateleira” da anestesista que de forma recorrente entra nas minhas fantasias “cirúrgicas” mais arrojadas.

Recuperado assim da minha letargia literária senti a urgência de rectificar o trabalho de resto impecável do pobre diabo e sugerir uma alteração urgente ao título da página.
 O meu amigo Harrison…pfff que raio de eufemismo é esse? O cabrão do livro só pode ser irmão!!! Não daqueles pequeninos, fofinhos que as colegas que estão a ler a crónica (como se conhecesse alguma que o fizesse) e vão escolher pediatria estão a imaginar. Não meus amigos, é um daqueles irmãos mais velhos, sadicamente retorcidos que te incitaram a experimentar uma malagueta injectada com piripiri e recoberta de wasabi e tiram fotografias para pôr no facebook e põem o vídeo no youtube  de ti à procura de água que não encontras numa garrafa para o efeito já que fora substituída pelo mesmo realizador por vodka saída de uma destilaria rural das terras perdidas de Tchornobil' (que para os factoid freaks significa Absinto) ou Chernobyl.

Alguma vez podia ser nosso amigo algo que nos obriga a pôr de parte amigos, sol, família, saúde mental, namorada, trabalho, férias em prol de um sofrido esforço de memória além da capacidade dos melhores discos rígidos do mercado? Alguma vez algo que confunde os dias num suceder de capítulos lidos para aqueles que já habituados a encornar “infumables” devaneios de um jurássico Sr Prof Dr Fulano-com-F-maiúsculo e que eventualmente mais cedo ou mais tarde participará desse Jurassic Club ou num suceder de linhas descodificadas para o comum dos estudantes de medicina que eventualmente engrossará as fileiras dos que realmente praticam/ensinam Medicina, pode ser um amigo?
E naturalmente surge a imagem do irmão-cabrão que todos temos na família (seja ele irmão, primo, tio, cunhada, frequentemente sogra(o), …) e neste momento todos percebem a ânsia do autor do site que tentando animar o pobre estudante a sorrir usa um oxímoro2 em jeito de título do site!  

Fica aqui uma séria sugestão para mudares o título Daniel Pinto

1Já sei já sei Deus escreve direito por linhas tortas…
2 oxímoro |cs| s. m.
Combinação engenhosa de palavras contraditórias ou incongruentes, como bondade cruel, geralmente para efeito epigramático. = OXÍMORON 
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2 Responses
  1. JOSEAN Says:

    Excelencia e calidad de pepectiva sobre o acontecimento do examen hasta yo cuando observe aquello tambiem entendi que dios no sabe de medicina porque si haci fuera me hubiese ayudado e a todos los que estabamos com cara de asombro ante situaciones que en la practica diaria no existen solo em los libros y sobre todo em el de mi amigo ya mencionado continuemos em este laberinto de vida que hemos creado suerte e alegria vamos a mantenernos firmes e vivir el dia a dia como si fuera el ultimo


  2. JOSEAN Says:

    Otra nota tremendas enfermeras que solo existem em fotos porque em la vide real nunca las vi


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