"Love is in the" OR
(Quero recalcar que o texto tem apenas um propósito humorístico, não se trata de uma crítica dirigida à classe visada, nem vai dotada de caracter pejorativo. Aliás quero remarcar que é uma das especialidades médico-cirúrgicas que não me importaria fazer)

Haverá especialidade médica mais romântica que a oftalmologia?
????

(Muitos perguntaram se este post me vai fazer subir a nota no estágio de cirurgia...eu acho que não :p No entanto passo a publicidade, para alguém mais susceptível =D)

É verdade, o romanticismo infiltra-se no ar de um bloco asséptico mediante a conjugação de factores cujo paralelismo com um encontro é mais que pura coincidência e onde qualquer um mais atrevido poderia acabar por descobrir um polígono "amoroso".

Primeiro é preciso notar que o oftalmologista é um daqueles médicos que "nunca" tem que comunicar que um dos seus pacientes morreu, logo é visto como um dos mais benignos dos"...gistas" a que uma pessoa pode recorrer, e assim temos o terreno fértil necessário para a nossa pequena história de amor. A partir daqui as intimidades sucedem-se, quanto mais não seja pelo facto de que um oftalmologista passa 4/5 da sua actividade profissional a olhar pela janela da alma, apreciando nos seus recantos mais profundos, emitindo juízos sobre a sanidade desta sem qualquer pudor! E as pessoas deixam... entram no consultório de pupilas dilatadas, entregando-se cegamente nas mãos desse estranho que lhes faz incidir um feixe de luz capaz de cegar um mocho, ainda por cima depois de terem sido tachados de burros por não conseguir ler meia dúzia de letras disconexas. Se não tivessem um Dr atrás no nome seria muito provavelmente corrido à porrada, mas isto é apenas mais uma prova do "quanto mais me bates mais eu gosto de ti!". Então "entre olho mau e olho pior"®, o oftalmologista vai lutando contra defeitos refractivos, degenerações e atrofias, picores e vermelhidões várias à base de colírios e lentes caríssimas cuja diferença com perfumes e cristais Swarowski reside no preço e no local de aplicação e quando as coisas se complicam ou precisamos de fechar a marquise lá de casa, à faca! E aqui sim o romance é quase palpável...

....o paciente chega, e é imediatamente convidado a experimentar um cocktail farmacológico de bem estar e tranquilidade, preparado pelos melhores bartenders do Hospital, que têm que admitir de que se trata de um excelente quebra-gelo! Nada de pôr o paciente a dormir, nada de incapacitá-lo para interagir, nada disso, este estará "consciente" e "atento" curtindo uma "trip" legal através dos meandros de uma intervenção cirúrgica. Mas logo a seguir a este encontro imediato de terceiro grau, uma azáfama de protocolos marca indiferença entre o médico e o paciente como se este se fizesse rogar pela intimidade que em breve vão partilhar.
Fazendo jus à tradição islâmica, que defende que o que se intui é mais atraente que o que se vê, (especialmente se se trata de operar uma senhora de 900 anos cuja neve do tempo branqueou até as pestanas), o paciente agora espera as mãos hábeis do especialista dos olhos convertido em cirurgião sob uma versão médica de um "hyeab" a través do qual só se vêem os olhos.


Apagam-se as luzes, toda a gente sussurra a partir de agora, como se a fraca luz do micoscópio centrasse todas as atenções naquele 1% de pessoa por quem se calhar já tanta gente suspirou (a senhora era muita gira quando era nova). Dá-se início a um bailado de nano-micro-mini instrumentos, que tal como o seu nome implica, pelas suas reduzidas dimensões fazem com que pareça mínima a agressão a que se dedica toda a cirurgia.


Mas não acaba aí o romance..., o médico controla o microscópio tacteando com os pés palancas e alavancas descalço para melhor sentir as nuances dos diferentes controlos. E o jogo de pés que pode ocorrer com o interno que assiste impávido e sereno apicanta um cenário até já carregado de elementos quase que retirados de uma cena depictada por um poeta romântico.

A luz da objectiva, a tensão retida na concentração da tarefa minuciosa de salvar 0,1 de visão, as vozes baixaos, faz com que o que vos conto seja tudo menos frugal.

Termina a cirurgia, o paciente emocionado com a promessa de um êxito cirúrgico que lhe permitirá distinguir vultos (antes só consegui identificar a presença ou ausência de luz), o médico contente pelo sentimento de missão cumprida e o interno acalentado pela esperança de que aquele roce implique um papel maior na próxima vitrectomia.

Haverá algo mais romântico?

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1 Response
  1. Veiga Says:

    A sequência de 6 imagens duma mulher completamente nua estão muito nítidas mas no cimo do cartaz as imagens estão muito desfocadas nem dá para entender se é um mulher quanto mais a mesma


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