Tem dias assim...
...em que o cinzento do céu me entra pelos olhos adentro e se apodera da minha alma, estropiando o equilíbrio ténue que faz com o copo pareça meio cheio...
...em que sentes o peso dos grilhões da realidade e a responsabilidade que esta te impõe lembrando-te que não podes voar.
Tem dias assim...
... em que o vulcão que te ruge no peito parece domesticado e se acomoda ante a agreste paisagem solitária que representa vaguear longe dos teus, dos que te entendem, dos que te querem bem, dos que lutam contigo as mesmas batalhas num esforço inglório por pisar forte o caminho que está além do resto do rebanho...
...que em vez de sangue quente pulsátil, sentes as agulhas dos cristais de gelo em que este se torna rasgar as artérias pedindo mais um grito de guerra, mais um esforço para trepar a montanha que cada vez parece mais alta e cruel.
Tem dias assim...
...em que a contradição impera e leva a que no âmago de toda a frieza que se instala em ti, sejas consciente do crocitar das engrenagens racionais que teimam em gemer em protesto pela intensidade vertiginosa do seu movimento e querem pararem a tendência autodestrutiva da sua missão, encontrar uma razão para não abalar sem rumo ou destino.
Tem dias assim em que tudo é uma violação do teu direito a ser feliz e o teu dever de te integrares numa sociedade que cada vez mais te parece fechada e mesquinha, confusa e doente, hipócrita e distante, trotando em direção ao individualismo sociodependente e o elitismo disfarçado de "busca de qualidade". Sinto-me uma presa nos dentes de uma máquina à qual não quero pertencer, mas que pela própria definição de Vida actual, me mastiga e me devora o resto de alma que não tenho emprestada.
Prevaleço... definho...acredito...morro...renasço... "dezexisto", porque existo dez vezes fora do tempo e do espaço reconhecidamente "normais" (seja lá o que isso fôr)... sobrevivo relativamente incólume a mais um revés na busca de uma sonho de realização profissional e pessoal e procuro junto dos meus encontrar forma de acelerar a função sinusoidal que caracteriza a minha trajectória esperando que F(x)= máx(sen [x])
Enviar um comentário