Verborreia Crónica
Tenho informações importantes a comunicar à OMS que podem muito bem configurar a inclusão de uma nova doença no ICD.

Verborreia crónica - doença que se caracteriza pela incapacidade do sujeito de se manter calado em situações em cujas todas as convenções sociais o obrigam a guardar silêncio para não agitar as águas que se querem estagnadas ao ponto de permitirem a proliferação de microorganismos saprótrofos (do grego σαπρός "saprós", podre + τροφος "trofos", alimentar).

Agora a sério, fico fodido... todos os dias perco uma oportunidade para estar calado! E ainda assim, com toda a experiência que tenho em analisar o porquê de estar na posição em que estou continuo sem perceber como é possível equilibrar o silêncio e a palavra sem estalar o verniz social com que aprimoradamente toda a gente se anda para a aí a embelezar.
Não é o que eu não saiba o que digo, não é isso! Aliás no "aftermath" toda a minha gente diz: "Ah e tal e o camandro, até falas bem, e coiso, mas não podes dizer isso, que tu depois fodes-te..." e fodo mesmo, normalmente têm sempre razão nesse aspecto.
Não é que eu tenha problemas nesse departamento my sex life is A-OK, mas até mesmo naquelas noites S&M mais agressivas eu posso gritar basta e voltamos à normalidade sem ressentimentos, na vida real não! Há sempre mossas ou mazelas que nem com Hirudoid®.

Qual é o problema em discutir? Porque é que as pessoas têm pruridos na hora de argumentar as suas posições, dar um murro na mesa, enfatizar via decibéis esta ou aquela posição? Afinal não é importante estar seguro das nossas convicções? Não é suposto e normal ser capaz de as assumirmos ante os outros independentemente da reacção contraditória que possam provocar? Ora de que serve sabermos o que queremos, o que acreditamos se depois na prática é tudo sujeito ao escrutínio do socialmente aceite?

Recuso ser um formatado pela sociedade! Já não tem nada a haver com a rebeldia de adolescente ou a postura de jovem que vai mudar o Mundo, been there, done that, acho que já saltei essa fase (sim considero-me um jovem), agora vou no think global, act local, e 'tou a arrumar o meu "quarto". Nesse aspecto tenho que ser coerente e actuar de acordo com o que eu penso de forma genuína, afinal só assim poderei validar a pertinência e consistência dos fundamentos que alicerçam as minhas posições.

Parece lógico, não?

Mas não é, como praticamente tudo o que me foi ensinado em criança, a realidade vem e troca-me as voltas por completo... o que o povo quer é cenas simples. Sem stress, sem confusão, sem paixão, sem ondas, cenas fáceis, vá lá. Debater dá muito trabalho, temos que pensar o que justifica a nossa atitude com premissas que muita das vezes vamos a ver e são colagens de um qualquer modelo que adoptamos por estar mais à mão ou ser mais consensual e portanto carecem de um verdadeiro alicerce que possamos expôr à violência de argumentos bem montados. E pior ainda podem levar a tomadas de atitudes que implicam alterar o esquema habitual das coisas, que então sim dá muito trabalho. 

As conversas hoje em dia reduzem-se à circunstância, situações concretas sem valor e cordialidades várias decorrentes das boas maneiras que espremidas não aportam mais do que a linguagem corporal que pode deixar antever mais do que o que o diálogo per se. Por isso é frequente que quando na ausência de um buraco para se esconder quando se fala de "cenas" realmente importantes normalmente o interlocutor, que se está nas tintas para tudo o que implique trabalho, se defenda na análise da sintaxe ignorando a semântica, esta última arquitectada sobre a solidez do que acreditamos. Isto não é nada de novo, é uma arte em que a população feminina leva a palma a qualquer um dado que é frequente diálogos do estilo desde as eras das cavernas conforme veremos noutro post.

Irrita-me! Não dá para falar nada, sobre nada, que saia fora da rotina que implique algo mais do que um acenar de cabeça e um "hmmmmm, hmmmmm". Toda a minha gente até pode achar logo que quero mudar o mundo, que sou um iludido, que não vou chegar a lado nenhum, etc..., mas é que nem dão hipótese de diálogo inteligente e construtivo sobre o assunto e quando dão escondem-se nestas frases feitas que são fixes para rematar qualquer conversa sem o esforço de se debruçar sobre a questão no sentido de serem dois à procura de alternativas! A alternativa é sempre "deixa arder, que não me queima". E depois eu irrito-me!

Caso prático, isto é um suponhamos... Vamos supor que os aprendizes de um certo hospital são obrigados, por decreto de lei a aceitar serem sodomizados durante 12h por semana. Por decreto, são também excluídos do grupinho que acumula sodomia, felação e coito pagos em obscenas quantias mas que na realidade delega essas actividades aos aprendizes que também foram chulados no rendimento que obtém. Assim a condição de ser sodomizados essas 12h é ainda por cima mal paga! E como se não bastasse ninguém explica que se pode usar vaselina e que há posições em que dói menos, portanto 12h de sodomia, mal pagas e sem formação. Vamos agora supor que esses aprendizes se agrupam e descobrem que são em grande número e que portanto podem negociar e até têm no grupo quem disso faça bandeira e leve avante a vontade de contrariar a corrente. E essa pessoa trabalha e faz e agita e avança e comunica e reúne e tenta e tudo e mais um par de botas no sentido de reunir o consenso dos soon to be assholes e nada... ninguém diz nada! Ora bem das duas, três... ou todos gostam de ser sodomizados ou então são uns acéfalos? Não é que ainda se dão ao luxo de não só não ligar nenhum como ainda criticam a forma como responde a criatura que na eminência de ser sodomizada apenas quer pelo menos impôr condições?!

Não entendo, pode-me a minha verborreia crónica impede-me o silêncio e faz-me falar quando devia esta calado à espera que pelo menos para mim tragam ViscoLub.
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1 Response
  1. Sou Says:

    Também padeço dessa miserável doença. É temos que ver se existem comprimidos para isso, a não ser possível talvez possamos dar ideia que façam um dispositivo de fecho eclair para veborreicos.


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